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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Quanto vale o seu passe, jogador?

Saudações BDSM, triangulares e fraternais a todos!

Conversando com uma amiga veio a frase:
- GanoN, o Senhor bem que podia vir me visitar.
- Eu? Oras, o submisso é você. Venha você e se prepare para não ocupar mais que quatro horas de meu dia.
- Ah, não... Vem o Senhor. E se prepare para ficar o dia todo. Ah, toma o endereço (o escreve no MSN)! Não terei como pegá-lo em lugar algum. Alugue um hotel no centro, é mais fácil para mim, Senhor.
- Acho que alguém se perdeu, amiga. Sou Dominador e não me vejo indo atrás de submisso e ainda fazendo tudo para estar próximo a ele.
- Ah! Que isso, Szir GanoN, quer desvalorizar meu passe?!?!?!?!?!?!?!?!
Fiquei pasmo, aleguei que o telefone tocava, me despedi e saí (quase que correndo).

Com brincadeira ou seriedade, estava dado o recado.
O BDSM hoje é como uma grande empresa. Submissos tem passe - e os valoriza. Abrem mão da base, as mesmas que citam – empiricamente – o que é ser e como se comportar um submisso, e correm qual executivos de multinacionais para o Dominador que "der mais".

Muitos chegam a deixar a relação de lado. Vivem um mundo virtual onde o Dono o é de uma coleira vazia, mas o submisso, igualmente serve a uma guia vazia.
A máxima é: Melhor a coleira de um Renomado no pescoço virtual que uma, em que eu fique feliz, que é real, voando.
Alguns têm Dono ausente, não desfrutam do prazer de servir, mas tem a glória de servir ao meio. E somente ao meio, pois que - mordidos pelo virus de uma fama inexistente - tornam-se escravos de um meio que se mostra, cada vez mais, desequilibrado (no sentido de foco e função) e perdido.
Distanciam-se, sem perceber, daquilo que sinalizava uni-lo a si mesmo. O jogo, o meio, a Dominação ou submissão.

Fora das listas, dos eventos, das comunidades são anônimos que tem que disputar um lugar ao sol. E muitos são humilhados, abatidos e submetidos nessa luta diária. Muitos só conseguem “ser ouvidos” no meio e ainda assim, quando falam esquecem de diferenciar o “impor” do “expor” pensamento.
Qual generais ditam regras e criam a ditadura.

Mas não se importam, afinal no meio BDSM eles são bons, tem seus passes disputados, suas ideias usadas como base de argumentação, sua visão tida como regra.
Só não entendo porque a maioria está tão só e reclamando que falta isso ou aquilo para eles.

***

Mas... até que ponto podemos engavetar nossos prazeres a bem do virus de uma fama surreal?
Qual era o minha busca quando entrei no meio?
Qual minha posição e real importância para mim, para meus pares?
Até que ponto eu posso deixar de lado meus sonhos primaveris para me perder em listas, chats e comunidades?
Sou ou não sou o que sou? Mas... o que sou?

Já vi submissa forçar encoleiramento sem pensar no que realmente interessava. Forçava porque o Dominador era o Senhor Fulano. Especialista em Bondage, exímio dominador de chicote longo, mas... que nos intervalos dessa fama "lavava para fora". Quer mais? Não deixava passar um erro da submissa, em listas era impiedoso, mas em casa, a esposa mandava sem precisar repetir muitas vezes, era conhecida no prédio como "Geninãoprecisaterzepellin - que ela dá".
Não tenho absolutamente nada com a vida de ninguém, o fetiche é seu e o segue quem desejar, porém... Até que ponto o eu-submisso sentir-se-á seguro ao ser cobrado, adestrado, possuído por alguém que não administra nem sua própria submissão?
E sim, na roda do dia temos percentuais de atuação dominadora e submissa. Essa é a vida e viver é fantástico. Quando vamos ao meio é justamente para exercer o maior percentual possível daquilo que nos dá prazer. Assim, mesmo sendo Dominador terei lances submissos, agirei complacentemente como tal e nada disso terá real interferência na minha, já enraizada educação, pois não poderemos jamais, confundir gentileza e gestos gentis, atitudes de respeito e admiração com dominação ou submissão.

Mas nada disso importa, repito, o Senhor Fulano é famoso no meio, é amigo-pessoal Dessa ou Daquele, é íntimo das submissas mais renomadas do meio. Ele pode.

Mas, voltando, o que é passe? Até que ponto temos real valor de passe nesse meio?
Até que ponto eu preciso de um meio para aferir meu real valor?
Se sou submisso e busco ser lapidado segundo os meios de um Dominador, qual o preço?

Ouço muito, por aí, que submisso não tem direito a isso, que submisso não pode aquilo, que submisso antes de qualquer coisa tem que fazer/falar aquilo, que submisso, que submisso...
Mas... vejo, cada vez mais, submissos agindo como Senhores Feudais e, talvez o pior, como donos da bola (entendo que a bola do BDSM não tem dono).

Senhores, BDSM é um jogo de dois. Ambos são importantes, mas ambos desenvolvem papeis muito claros nos rios do prazer.
Se iludir é se afastar mais ainda de si mesmo, de seus prazeres e se perder no limbo do meio. Meio esse que devia ser uma ponte de passagem, um túnel de breve reflexão e não um luxuoso condomínio residencial com o nome de "A última morado dos gaviões". Ainda assim, quem quiser morar que more, mas me isente de qualquer taxa ou assinatura concordante, pois eu vejo apenas, somente e tão somente uma ponte de passagem, um túnel de breve reflexão.

Voltando ao ponto inicial, vejo, reflito e chego à conclusão que justamente por ter um passe valorizado que a submissa em questão, brincando ou não, deveria fazer todas as honras, afinal é experiente, tem passe valorizado e, por isso, acreditamos saber fazer as coisas.
Por outro lado, não precisa ser BDSM para aplicar o básico da boa educação.
Do contrário, da mesma forma que antes eu defendia a visão de que Dominador tem que ser, no mínimo, gentil e educado, agora abrangerei a frase para todos, pois vejo que foi-se o tempo em que submisso atendia as regras básicas de boa educação e recepção impecável.
Tenho dito.

Lindo final de semana a todos!

Szir GanoN
Um homem sem valor de passe, mas que passa todas as vezes que vê um papel ser mais importante que o ser humano que o porta.

4 comentários:

  1. Infelizmente, tenho que admitir que hoje o BDSM camufla uma busca velada por objetivos materiais e renome, enquanto o aprendizado e a evolução ficam em segundo plano.

    Não tenho anos de conhecimento, mas boa observadora que sou já percebi muito bem que hoje em dias muitos Dominadores se deixam dominar, e muitas submissas confundem submissão com prostituição.

    Ainda acredito na pureza das coisas: de caráter, na servidão sincera e no domínio que te conduza à evolução. Espero morrer acreditando.

    Parabéns pelo post!

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  2. Saudações...

    Já diz a frase...(O meio ou grupo te define) ele dita as regras desse BDSM que vivemos hoje, são esses grupos que dão maior credibilidade ao seu passe.

    Em função dessa credibilidade surgem as subs-fodásticas,os DINOS, pessoas que se acham o gás da coca-cola, a última bolachinha do pacote. Não deve ser fácil lidar e adm égos faraónicos onde o limite é o céu.

    Eu sendo do baixo clero, ainda tenho esperanças, esperança que um dia o BDSM , seje encarado e respeitado como um jogo á dois, onde a prioridade seja a (troca) de disposições e prazeres.

    Simples Assim...

    belle de jour

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  3. Digamos que resumiu tudo que pensei. Belo texto Szir Ganon.

    Infelizmente, é real.

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Obrigado por comentar, andarilho!