A imersão no jogo BDSM
Tão importante quanto jogar é não somente conseguir imergir no jogo, mas igualmente saber o que se busca ao disponibilizar-se àquela prática.
O Dominador, através de seus métodos, convida o submisso a acreditar em seu mando e imergir em um jogo. Por outro lado, fica a cargo do submisso se permitir o mergulho naquele universo e ainda conseguir ir além do proposto.
Inicialmente, muito parecerá fora de propósito ou sentido, mas conforme ambos acreditam (e individualmente permitam-se), o jogo fica mais intenso e o mergulho mais pleno, mais profundo, dependendo da busca, mais realizador.
Mas o que se busca quando se convida uma mulher, um homem, a ser PonyGirl (Poney Girl para alguns), DogWoman ou Catplay?
Onde estaria o prazer nessas práticas? Existe a necessidade de prazer direto ou pode-se vivenciar apenas pela poesia do momento de estar com o outro ou, também, pela curtição de se permitir ir além?
Que tipo de vivência elas possibilitariam? Que tipo de curtição poderá ter?
Acredito que a busca é por experiências fora de seu próprio universo. Quando há a vivência como poney (e entendo que aqui cabe poney, pois falamos do animal e não do jogo), dog ou cat, todos os sentidos, percepções e atuações são temporariamente desfocados e reconfigurados para operarem de outra forma.
Muitos, em suas avaliações, consideram somente a possibilidade do cunho humilhante da prática, mas vejo que nem sempre o sentimento de humilhação se faz presente, sobretudo quando há o tal mergulho.
- Oras, se é para ser cão (e o submisso se vê, sente e se percebe cão), que humilhação há nisso?! Por outro lado, in tacitus, fica claro que em poucas horas ele voltará a ser homem-de-pé e, em momento algum, deixou de ser homem-pensante.
E é justo no quesito pensar que o mergulho se fará importante, pois ao vivenciar minutos como cão, ele precisa, para atender a contento, ser levado a pensar como cão.
O trabalho que o Dominador tem pode ser considerado absurdamente alto, pois se por um lado o submisso se auto reconfigurará para atender a vida de cão – por exemplo –, o Dominador deve estar preparado para atender a outras frentes como adestrador, cuidador, proprietário e até como um cão AlfaDominante (caso sexual).
Notem que o jogo não é de um, mas sim de ambos e ambos precisarão fazer todo um estudo “in loco” e “of case” para melhor imersão. Atentar a detalhes como postura, tempo de respostas e linguagem torna-se fundamental.
A postura tanto de cão quanto de adestrador/proprietário/Cão-AlfaDominante são totalmente diferentes das outras pessoas e animais. O estudo de todos esses movimentos será parte do jogo e os levará a observar pontos em si mesmos.
Não há um diálogo filosófico entre adestrador e animal, a linguagem é curta, direta e a entonação é tão importante quando o emprego das palavras.
Veja: - Cão, junto. - Senta. - Quieto! - Pega. - Fica! – Muito booom! Muuuittooo bom!
Mas ainda assim, quando ambos acreditam no que fazem, os resultados são prazerosos e de uma compensação sem igual. Por que? Porque houve uma proposta e o atendimento a ela é o resultado da permissão individual. É cada um fazendo o seu jogo no jogo do outro e permitindo que o outro faça seu próprio jogo inserido no seu.
Talvez alguns perguntem onde está o prazer de vivenciar períodos como animal, eu responderei solicitando a reflexão: onde está o prazer de andar de carro, de ir ao cinema, de fazer nada, de assistir a um filme, de transar dessa ou daquela maneira? Prazer nem sempre se explica, na maioria das vezes, sente-se, vivencia-se e pronto. Não vem em saquinho, mas é quase sempre instantâneo quando acreditamos que podemos dar vazão aos sentires que acompanham a prática.
Mas ainda assim existe prazer na realização do ato, o prazer de se ver capaz de vivenciar algo diferente em que seu corpo, seus atos e até seu modo de processar, são reconfigurados. Prazer pelo prazer, prazer no prazer de ter prazer. Só prazer ou também prazer.
Um ponto para argumentação e reflexão: Eu não viveria em um parque de diversões, eu não passaria mais que algumas horas sob o sol escaldante do nordeste, mas da mesma forma que muitos vivenciam essa realidade, outros a experimentam somente algumas vezes e alguns, somente se permitem uma única vez. É cada um, ainda que pelo ou no outro, com o seu um.
Uma sugestão é, antes de aplicar o jogo, solicitar – de preferência guiando e fazendo o mesmo – exercícios de observação dos atos dos animais em foco. Solicitar relatórios dessa observação, trocar comentários acerca do que é visto, buscar pontos, averiguar meios para entendimento e sensibilização.
Como se alimentam, quais rituais seguem, como deitam, a configuração de seus sentidos, como ele responde a estímulos e como ele é o que é.
Ainda lembro que uma boa imersão/vivência transpõe mundos e não somente atos, assim da mesma forma que o submisso simulará as atitudes do requisitado animal, conforme dito... cabe ao Dominador atender de forma igual, à altura e totalmente desarmado, afinal o jogo é de dois, não de só um com um.
Ao final é salutar lembrar o de sempre: Não há regras, não há manual e o que não pode faltar é você ter o mesmo empenho que espera do outro; além disso, credite fichas na cumplicidade, na troca e no acolher o movimento do outro.
No mais, bom jogo!
Szir GanoN
22set2009
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